As histórias sempre fizeram parte das nossas vidas. A principal razão para o ser humano gostar tanto de histórias e atribuir-lhe importância deve-se à capacidade que uma história bem contada tem na passagem de conhecimento. No fundo, contar histórias é ensinar e ouvi-las é aprender.
Neste artigo, reunimos um conjunto de ideias para aplicar as melhores estratégias de storytelling nas suas aulas. Captar a atenção dos mais novos tem sido uma tarefa cada vez mais difícil e as histórias ajudam a tornar as lições mais interessantes e memoráveis.
Para conhecer o testemunho real de uma professora que usa histórias, diariamente, na sua sala de aula, ouça o episódio n.º 6 do nosso podcast sobre educação Sebenta Digital by BCN com o Professor Marco Bento e a Professora Carla Maia. Uma conversa a não perder.
O que é Storytelling e qual a sua importância para a vida humana?
Storytelling, como o próprio nome indica em inglês, é a arte de contar histórias. Tem sido um tema muito debatido entre profissionais por todo o mundo, em palestras, cursos e webinars e é um conceito comummente aplicado a várias áreas da vida humana, precisamente por ser a forma mais eficaz de passar conhecimento (por parte do emissor) e de o reter (por parte do recetor).
“As histórias são 22 vezes mais memoráveis do que os factos”. – Jennifer Aaker
A melhor forma de provarmos a alguém que algo é perigoso, ou ao contrário, benéfico para outrem é através da partilha da história de uma experiência pessoal, ou a de alguém próximo. Ouvir de alguém “Não faças isso porque, uma vez, um amigo meu fez isto e correu mal…” ou então “Experimenta isto, comigo resultou e consegui ultrapassar o problema X quando…” traz uma carga de credibilidade muito maior do que dar um conselho vazio, baseado apenas na vontade própria sobre as ações de outra pessoa.
Para além de captar a atenção do recetor, as histórias permitem que o seu hipotálamo liberte uma hormona responsável pelo sentimento de empatia, a tão falada oxitocina, mais conhecida como a “hormona da felicidade”.
O ser humano sempre usou histórias para passar valores aos seus descendentes, ensinando-os através da história de alguém mais experiente. A própria literatura infantil tem sido, ao longo de séculos, a forma mais difundida de incutir valores, conceitos e exemplos, mesmo que sejam personagens fictícios por quem os mais novos passam a nutrir afeto e levam na memória para o resto da vida.
O storytelling, quando conta com a criação de um mundo fictício onde os personagens principais ganham vida através dos livros ou do grande ecrã, passa a ter um poder inegável na captação da atenção e envolvimento dos seus recetores. Histórias como as dos irmãos Grimm, ou mais recentemente, de escritores como J. R. R. Tolkien, J. K. Rolling ou George R. R. Martin, educam gerações captando a atenção de indivíduos de todas as idades.
Se recuarmos ainda mais na História, até à Antiguidade Clássica, os mitos eram também conteúdos que, para além de entreterem as massas, serviam como exemplos de comportamentos humanos, representados em drama ou comédia. Nasce aqui a ideia de herói, de vilão, de mentor e muitos outros arquétipos que vieram a ser objeto de estudo de Joseph Campbell no seu livro de meados dos anos 1950, O Herói de Mil Faces.
“Existem apenas três histórias humanas, e elas repetem-se, tão furiosamente como se nunca tivessem existido antes.” – Willa Carther
As narrativas seguem estruturas há vários séculos e os seus personagens também se repetem, apenas mudam de forma, nome e personalidade através dos tempos. Este é um dos rabbit holes que mais valem a pena explorar para quem é amante de histórias e pretende entender como criar as suas próprias histórias, seja como autor, ou para aplicar a outras áreas da vida social. É, absolutamente, fascinante ver as semelhanças entre histórias que foram escritas com séculos de distância. Semelhanças essas, não só nos arquétipos, mas também na própria estrutura de “princípio, meio e fim” que vários autores foram usando ao longo do tempo, quer em romances, contos ou peças de teatro. Existe a “estrutura de três atos”, que é a mais utilizada, a “pirâmide de Freytag”, com 5 atos, e a Jornada do Herói, com 12 fases.
Dicas para Utilizar Estratégias de Storytelling nas suas Aulas
Se as histórias fazem parte das nossas vidas desde que nascemos e acompanham gerações e gerações de pessoas, dando significado à vida humana, por que não trazer as histórias para o interior da sala de aula e tomá-las como parte integrante da educação, em vez de ser associado ao ócio?
Os professores que usam narrativas nas suas aulas, como é o exemplo da Professora Carla Maia, convidada do 6.º episódio do nosso podcast Sebenta Digital by BCN, afirmam que captam muito mais facilmente a atenção dos alunos, mesmo os mais pequenos, e que isso acontece porque eles entendem o propósito das lições e memorizam o conteúdo que é associado a um personagem por quem sentem empatia. Para os mais novos, faz mais sentido o contexto por detrás da matéria que está a ser lecionada e as histórias encaixam na perfeição no papel de dar contexto a algo esotérico e intangível.
Estes profissionais adotam este tipo de estratégias para ultrapassar o problema crescente de abandono escolar e desinteresse dos mais novos em relação ao percurso académico. Se têm de aprender as horas, por exemplo, o professor procura uma história em que um dos personagens precisa de saber as horas. Isto pode aplicar-se a outras matérias e contextos.
1. Conheça a sua audiência
Mediante a idade e estilo de vida dos alunos, o professor poderá escolher histórias que melhor se adequem ao contexto que precisam de criar, ao longo do ano, para dar as matérias sem distrações. Os alunos mais novos poderão criar mais empatia por histórias mais simples e animadas, enquanto os mais velhos poderão interessar-se por narrativas com arcos mais complexos, múltiplos personagens e uma maior densidade no enredo. Para além de envolver mais os alunos pelas suas aulas, fará com que criem hábitos de leitura através de obras que eles gostem.
2. Escolha a sua biblioteca de conteúdos para todo o ano
A criação da biblioteca de narrativas é muito importante para planear o seu ano letivo. Pode dar mais trabalho numa altura específica, mas durante o ano será mais fácil preparar as suas aulas. Escolha várias obras, com contextos adequados às matérias que precisa de lecionar.
3. Incentive os alunos a criarem storyboards
Os storyborads são importantes para reter o conhecimento, uma vez que se trata de fazer um resumo da obra (ou parte dela) e recriá-lo através de um meio diferente. Poderá ser através de desenho, de apresentação ou outro. Neste tipo de trabalho, pode juntar os alunos em grupo para criarem um storyboard em conjunto e desenvolverem a capacidade de dividir tarefas para atingir um objetivo comum.
4. Utilize diferentes tipos de ferramentas digitais
Não só para os alunos trabalharem os seus storyboards, mas também para o professor apresentar diferentes partes da história e cativar a atenção deles para os conteúdos das aulas. Opte por ferramentas digitais e plataformas que unam o tempo de estudo síncrono com o assíncrono. Aconselhamos ferramentas como o Padlet e o Edpuzzle.
Poderá ainda criar suspense no final das suas lições com “cliffhangers” (muito usado em peças televisivas ou cinematográficas, em que um personagem fica exposto a uma situação limite, como um dilema, um confronto ou uma possível revelação que muda o curso da história). Os cliffhangers fazem a ponte para as aulas seguintes, aguçando o interesse dos alunos pelo que irá acontecer na próxima sessão.
Esperamos que as dicas sejam úteis. O portefólio da BCN é rico em soluções de tecnologia educativa (EdTech). Fale com a nossa equipa para um aconselhamento mais personalizado.